agape

Luciana Petersen
2 min readMar 31, 2022

assim que cheguei na cidade onde eu moro vi uma placa de mulheres que amam demais anônimas. tirei uma foto com minha amiga, brincando que eu deveria frequentar. talvez seja o ascendente em câncer, talvez a criação cristã. fato é que eu só permaneço vivendo por causa do amor. me disseram que o perfeito amor lança fora todo medo e eu cri. e hoje talvez seja o que me faça permanecer com fé. mas amor é dor que arde sem se ver. love is a losing game. amar é a eterna inocência, e a única inocência é não pensar. verbo intransitivo. não falo do amor romântico, nem acho que todos os poetas do mundo diziam apenas deste, um grão de areia no mar de amor. falo do amor incondicional, que vai até quando nada mais resta, só o amor. o cristo que amo chamou a simão pedro por seu nome morto perguntou três vezes: tu me amas? se ele que é eterno e venceu a morte externalizou tal insegurança, quanto mais eu, frágil, forjada em inseguranças, habitante de um corpo que historicamente não é amado. aliás, nem faria sentido falar do amor romântico dos filmes e livros, visto que este definitivamente não é para corpos como o meu. mas no fim do dia, ainda amo demais. mais do que cabe em um corpo, em um bloco de notas, em um cérebro, em uma sessão de terapia. amar demais paralisa. amar demais consome. amar também ressuscita. talvez por isso o cristo glorificado perguntava: tu me amas?

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